local
Fazenda da Juta
São Mateus, São Paulo – SP
linha do tempo
Novembro de 1990 a Setembro de 1991 – Negociação/ Projeto
Setembro de 1991 a 2000 – Construção (Interrupção entre 1993 e 1997)
agente organizador
Associações de Construção por Mutirão 26 de Julho I, II e III, filiadas ao Movimento Sem Terra Leste 1, por sua vez vinculado à União dos Movimentos de Moradia (UMM)
agente financiador
Terra: Governo do Estado de São Paulo – CDHU
Projeto e Construção: Prefeitura Municipal de São Paulo, através do Programa Funaps-Comunitário
atividades desenvolvidas pela usina
Assessoria na discussão e elaboração dos projetos
Apoio no encaminhamento dos processos de financiamento junto à Prefeitura e ao Governo do Estado
Organização das atividades de canteiro e gestão da obra
Acompanhamento e fiscalização da obra de construção em mutirão e por autogestão
Assessoria para a constituição de um conselho gestor
escopo do projeto
Adequação de projetos de urbanismo e elaboração de projeto de arquitetura para 561 unidades habitacionais com duas tipologias de sobrados
Projeto de instalações comunitárias compostas por cinco galpões e área coberta para reuniões e atividades utilizando quatro parabolóides hiperbólicos na composição da estrutura de cobertura
equipe
Arquitetura e Urbanismo: João Marcos de A. Lopes, Mario Luís Braga, Suzy Okamoto, Vladimir Benincasa, Wagner Germano
Obra: João Marcos de A. Lopes, Marcelo Barata, Vladimir Benincasa, Vladimir Gargano
Fundações e Estrutura: Yopanan Rabello
Trabalho Social: Jo-Elke Offringa (arquiteta), Maria José de Oliveira (assistente social), Priscila Bocchi (socióloga) e Sandra Sawaia (psicóloga social)
Apoio Jurídico: Evangelina Pinho
principais interlocutores
Lideranças: Paulo Conforto, Rita, Verônica Kroll, Adalberto, Valdeci, Osmar, Etiene, Risoleide, Isabel, Marília, Severino
Mestre-de-obras: Antônio
tipo de canteiro
Mutirão autogerido com trabalhadores assalariados
técnicas construtivas
Alvenaria autoportante em blocos cerâmicos sobre radiês de concreto
famílias
561
Desde o início dos anos 80, os profissionais que fundaram a USINA participaram – vinculados a outras instituições, a laboratórios acadêmicos ou de forma isolada – de trabalhos junto a movimentos sociais de luta por moradia.
A partir da iniciativa de alunos e professores interessados em trabalhar com esses movimentos sociais, é criado, em 1982 – no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Belas Artes de São Paulo –, o Laboratório de Habitação. Foi ali onde parte dos profissionais que fundaram a USINA puderam experimentar uma nova abordagem do problema da moradia, estabelecendo novos parâmetros para pensar e produzir o habitat popular.
O fechamento do Laboratório, no início de 1986 – em virtude de uma grande crise no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Belas Artes, que culminou com demissão de 92 professores –, fez com que seus antigos integrantes buscassem alternativas para dar continuidade ao trabalho ali inaugurado. Entre outras iniciativas, foram fundados Laboratórios de Habitação na Faculdade de Arquitetura de Santos, na Pontifícia Universidade Católica de Campinas e na Universidade Estadual de Campinas – por meio do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade (Nudecri). Foi este último que acabou recebendo grande parte da herança do Laboratório de Habitação da Faculdade de Belas Artes, retomando alguns trabalhos ali iniciados.
Um dos objetivos centrais do Nudecri era dar continuidade ao desenvolvimento de um sistema construtivo baseado num conjunto de componentes pré-fabricados, utilizando blocos cerâmicos e técnicas simples de montagem. Tratava-se de pensar uma tecnologia de construção específica para a produção de habitação por mutirão – termo herdado do vocabulário indígena para designar a cooperação no plantio e colheita dos roçados.
Este sistema também previa mecanismos simples e claros de administração de obras, com planilhas de quantificação, orçamentos e especificações abertas e sem as misteriosas composições de custos frequentemente propostas pelo poder público e pelas empreiteiras em obras convencionais, assegurando a possibilidade de controle do canteiro pelos próprios mutirantes. Tratava-se, portanto, de estabelecer as condições para que os trabalhadores pudessem produzir seu próprio território a partir de processos autogestionários.
Alguns dos fundadores da futura USINA trabalharam no Nudecri até 1989. A partir daí, avaliaram a possibilidade de constituir uma estrutura própria independente da Universidade, que garantisse sua autonomia e ao mesmo tempo permitisse continuar tratando do problema da moradia junto aos movimentos sociais.
Já no final de 1989, o grupo que daria origem à USINA começou a prestar serviços de assessoria técnica para a Associação Comunitária Terra é Nossa no município de Osasco (SP). Elaboraram os projetos de arquitetura e urbanismo para a implantação de um conjunto de moradias para 520 famílias que pretendiam construir suas novas casas por mutirão, numa área vizinha que vinha sendo negociada com o poder público.
Este projeto, integralmente custeado pelos moradores e com eles desenvolvido, permitiu que USINA estruturasse uma metodologia de trabalho própria, consolidando uma postura profissional autônoma e, ao mesmo tempo, comprometida com as lutas dos movimentos sociais. Como consequência, em junho de 1990 foi fundada a USINA, sob a forma de uma sociedade civil sem fins lucrativos.
Em novembro do mesmo ano, a USINA foi convidada pela Associação Comunitária 26 de Julho – vinculada ao Movimento Sem Terra Leste 1 – para adequar um projeto de urbanismo pré-existente e desenvolver um projeto de arquitetura de duas tipologias de sobrados visando a construção de 561 unidades habitacionais – por meio de mutirão e autogestão –, além de instalações comunitárias e uma área coberta para reuniões e outras atividades.
Realizado com recursos da Prefeitura Municipal de São Paulo (através do Programa Funaps-Comunitário), o Mutirão 26 de Julho foi a primeira grande obra da USINA. O conjunto foi construído na antiga Fazenda da Juta, situada no bairro de São Mateus, na Zona Leste de São Paulo – local que acabou se tornando uma espécie de laboratório para experiências de habitação de interesse social.
A Associação Comunitária 26 de Julho conseguiu implementar um conselho gestor e estocar materiais que garantiram a continuação da obra por mais de um ano, mesmo após a desestruturação, pela administração Paulo Maluf (1993-1996), do Programa de Mutirões implementado pela prefeita Luiza Erundina (1989-1992). Mesmo assim, entre 1993 e 1997 a obra ficou praticamente parada, tendo sido finalizada apenas no ano 2000, dez anos após o início do processo.
Participaram diretamente da redação desse texto: Ícaro Vilaça e Paula Constante.